quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O TOQUE

O toque toca.
Ao sair da toca,
aperte a geripoca,
bem ali atrás da porta.

O toque toca
na mão, no olho
ou mesmo no pé.

o toque toca na palma da mão
quando se vai em direção
aonde quer que seja.

o toque toca
no fone, no ouvido
no caminho
por que se vai
andando por aí sozinho

acompanhado do toque
do palm, do touch,
do simples toque
de um reles ou plebe
de um simples...
aparelho celular.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FAVELA(S)


Mas por que a visão das favelas incomoda tanto?
Incomoda? A visão de qual favela?
Da planta coincidentemente espinhosa que encobria o atual Morro da Providência no Rio de Janeiro (originalmente chamado Morro da Favela) para onde foram os exilados da Guerra de Canudos? Ou da “nova vegetação” formada pelas moradias e seus moradores que vieram substituir o verde dos morros da cidade? E é só na cidade que se encontra essa “nova planta”?
Em tempos de consciência ecológica, podemos lembrar que, no reino vegetal, as relações podem ser nocivas ou não entre os seres. Assim como as antigas favelas plantas, as novas favelas de concreto se alastram e vêm descendo os morros, nos fazendo ver o que realmente há – nos mostram uma nova vegetação urbana. Mostram o quanto todos somos desiguais dentro de uma biológica igualdade de necessidades vitais. Nos faz ver que para que uma parte não integre a paisagem das novas favelas, contraditoriamente compõem-se uma paisagem geral. Nela se tem um pedaço da paisagem urbana se autorreconhecendo, justamente por achar que não compõem aquela vegetação das atuais favelas. E o que não se percebe é que uma só existe e é o que é justamente por existir a outra.
Como numa relação ecológica, ambas as vegetações integram uma maior onde relações como parasitismo, predacionismo e comensalismo, além de outras, são facilmente verificadas. A favela desce o morro e passa a compor também a paisagem da área plana. O entrelaçamento é inevitável e é essa a (pré)visão que assusta e incomoda.
Os antigos derrotados da Guerra de Canudos viraram a base da paisagem atual. E, sem a base, não existe o ápice. Mas, assim como o ápice se corrompe, a base também. E favela acaba virando sinônimo não mais da planta, mas de agrupamento de criminosos (?). E o que não é favela? Vira o quê? Os moradores não são criminosos, são trabalhadores. Os criminosos estão em qualquer parte da paisagem (no alto ou no baixo).
Daí favela passa a se chamar comunidade. É o significado das palavras que se transforma a fim de tentar atender a uma demanda de significados. Mas... e o conceito de comunidade? Muda tanto quanto o significado da planta mudou? E a cidade? Não é toda ela uma grande comunidade? O que é toda a paisagem então?
Ora, a visão da favela incomoda... Por quê? Ela mostra que a Comunidade é toda ela uma coisa só e que se está dentro dela. Com as “novas plantas” se entrelaçando e coexistindo, mostra-se uma tendência em que não se sabe ao certo que tipo de “relação ecologicamente correta” vai prevalecer.