Disseram que Rogerinho montou uma
clínica. Massagens estéticas, relaxantes, tailandesas e, a mais procurada de
todas: massagem para o ego. A mulherada correu para lá, fazia fila e a agenda
sempre lotada.
Estética era muito procurada. Todas tentando frear a ação do
tempo na competição desesperada entre amigas fura-olho e inimigas declaradas.
Relaxantes eram a especialidade do estabelecimento. O dia a
dia, os stress das decepções amorosas amontoavam os nós nas costas pesadas de
pobres mulheres ditas mal-amadas; mas, na verdade, nada... nem um pouquinho de
nada só, amadas. Elas iam para lá receber a tal massagem que tinha um certo
brinde especial ao final. Algo que as relaxava por completo – corpo e alma – e
lhes dava uma migalha de momento de ilusão de amor.
As tailandesas... hunf! Essas na verdade eram oferecidas em
oficinas para que as clientes pudessem abrir suas próprias clínicas.
Mas a preferida do proprietário era a massagem para o ego
que ele dificilmente aplicava a alguma cliente. Esta era reservada para si
mesmo. Geralmente atendia mais de uma cliente, ou até mais do que isso; mas sempre
individualmente. Escolhia literalmente a dedo quem iria receber alguns
instantes desta massagem tão especial. Escolhia amigas infiéis, o que é
uma grande mentira se formos olhar o significado original destas palavras.
Escolhia-as como clientes, mas mal sabiam que elas sim é que lhe aplicavam a
massagem sem perceber. Cada uma julgava ser cliente exclusiva e se vangloriava
de ser mais esperta do que a outra ou mesmo especial. Pobres coitadas... ficavam duplamente cada vez mais pobres pois
o que recebiam era muito menos do que pagavam. As migalhas de amor eram rapidamente comidas pelos pássaros que viam ao receber o pseudo-tratamento e o preço desta
massagem não lhes mantinha a amizade, muito menos zerava a solidão que sentiam.
Apenas momentos breves, de uma massagem que aliviava como droga e deixava uma
ressaca moral pra além daquilo que poderiam suportar ou obter como benefícios
de uma boa e bem feita massagem.
A clínica só crescia e Rogerinho faturava e se
especializava cada vez mais. Mas o segredo é a alma do negócio e, atendendo
mulheres, um dia a clínica de massagens especializadas de Rogerinho perdeu suas
clientes mais fiéis (ou não) para nova concorrência.