quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MULHER E MENINA



É uma mulher
Em corpo de menina.

Corpo de mulher
Cabeça de menina.

Corpo de mulher
Mulher pequenina.
Só menina.

As duas numa só
A força da mulher
A graça da menina

Quem te ensina?
Duro aprendizado
A vida domina

Dói mais sem aspirina
Ela mora no monte da colina
A lareira ilumina
A porta pesada fica ao lado da cortina
Ela se descortina
É a mulher que protege a doce menina

domingo, 22 de setembro de 2013

O ARROTO E O ESPARADRAPO

Antigamente se comparava o roto ao esfarrapado, verdadeiros primos-irmãos dos fiapos que ora se uniam demais, ora se esparramavam fugindo da harmonia do tecido.
Roto, para quem não domina esse repertório, é quase o mesmo que esfarrapado, só que mais escancarado. É algo rasgado, esburacado, rompido. Um desfaz mais do que o outro. Não dá pra saber o que é pior.
Burlando essa comparação, prefiro parodiar com o arroto e o esparadrapo. Horrível o primeiro, mas alivia botando pra fora aquilo que incomoda. Necessário até. Defendo inclusive que não é falta de educação, pelo menos em algumas outras culturas com noções de etiqueta bem diferente da nossa. O que é aceito como certo aqui, pode não ser ali e por aí vão os farrapos se espalhando.
Ops! Faltou falar do esparadrapo. Ele une, cola, cala durante todo o seu tempo de uso, mas que como tempo tem sua duração.
Dói se retirado antes da hora; mas nem se nota se for deixado agindo durante o tempo necessário.
Entre o arroto e o esparadrapo, assim como entre o roto e o esfarrapado; tem-se dois pólos opostos, mas sempre necessários de acordo com a época e a cultura.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A LÍNGUA

A língua queima
e o corpo arde.

A língua se desenrola.
E se enrola
uma na outra

A língua queima,
curtas ou compridas
A língua queima.
Ela é o chicote do corpo,
doce chicote.

Ela diz não ao boicote.
Diz não à falta de perdão.
Diz não à pobreza de palavras
quando o corpo arde.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

QUEM DESDENHA QUER COMPRAR

Ditado antigo, significado atual? Não sei, estou aqui a refletir. Comprar indica posse, algo que perde sua autonomia e passa a pertencer a outrem.
Quem desdenha, faz pouco caso, demonstra desprezo e às vezes é aquilo que almejamos ser ou ter. Por que então não desejamos aquilo que realmente queremos em lugar de querer aquilo que não está ao nosso alcance?
O que está ao nosso lado não seduz, é como um caminho que percorremos todos os dias. Parece o que sabemos fazer com os olhos fechados. Agora, experimente fechá-los! As consequências podem ser cruéis. Experimentar outros caminhos pode ser tentador, pode ser melhor, mas pode ser exatamente o contrário. Pode-se ter medo de tentar outros caminhos ou fingir que não o quer, mas... talvez novos pedágios valham a pena se pagar.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

SEIS OU MEIA DÚZIA?



O seis e a meia dúzia. Acaso há alguma diferença? O primeiro está no masculino e o outro no feminino. Poderiam formar um casal. Casais normais se separam. Raros os que conseguem aos trancos e barrancos ficarem décadas unidos.
Seis, numeral; meia dúzia, fração. Qual dos dois vale mais? O inteiro ou a meia dúzia. Talvez a metade da dúzia valha mais pois é quase uma dúzia inteira, depende do ponto do vista. É como a história do copo meio cheio ou meio vazio. Tudo vai da interpretação. Já o seis é somente seis e ponto final. Não admite nuances. É taxativo.
Afinal, jogo a bola pra você leitor: o que vale mais, um seis inteiro e inflexível ou uma meia dúzia cheia de nuances? Sem um ou com o outro você sempre vai ter que lidar.

sábado, 14 de setembro de 2013

DOBRADURAS DE PAPEL

Vulgo origami. Vulgo nada! pois muita gente boa não sabe o que é. 
Gente é gente; seja ela boa ou má. Dizem que todos temos um anjo e um demônio dentro de si. Prefiro ficar com o anjo, mas não um anjo tonto, imbecil que aceita todo e qualquer absurdo; mas que sabe como e quando agir. O demônio, deixo para os que se acham espertos. Uma hora, seu servo irá lhe derrubar.
Dobraduras de papel podem assumir qualquer formato. Formas belas e outras nem tanto como os anjos e demônios citados acima. Depende da inspiração que lhe acompanha.
As cores do papel também podem ser diversas. Servem àquela arte. Enfeitam a casa, a sala, o quarto e onde mais se quiser colocá-las.
Encantam  a criança e o adulto, seja ele jovem ou velho. Seja aquela criança envelhecida também pelas durezas da vida.
As dobraduras do papel são arte e como arte ajudam a aliviar os ataques dos demônios alheios e fortalecer o anjo pessoal de cada um.

O PORRE



Sábado de manhã. Preguiça total de levantar da cama. Compromissos a cumprir. Curso sério a seguir.
A preguiça impera. Não é trabalho. Ou melhor, não é emprego, pois trabalho tudo é e tudo dá.
O vinho barato da noite anterior contribui para isso. Ainda bem que cheguei atrasada ao encontro, senão teria tomado um porre e não estaria aqui agora escrevendo estas linhas. Estaria em outro cômodo da casa.
Um porre cura tudo é o que muitos dizem. Eu acho que só piora (ou melhora). Aumenta a alegria e piora a tristeza, a mágoa e a decepção. Mas alivia por um instante e a vida é feita deles.
E o encontro? Um total desencontro só. Ainda bem que foi apenas um instante e a vida segue com mais porres pela frente.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A FRUTA


A fruta está lá na árvore. Bela, vicosa; pronta para ser colhida. Como ela, há muitas outras frutas, no pé da árvore. Todas esperando serem colhidas. Algumas têm bichos por dentro, mas ninguém vê. Só na hora do comê-las. Argh! Que decepção! Melhor seria ter escolhido menos. Agora já é tarde. A fruta escolhida foi aquela por você colhida e agora o resultado é um tremendo piriri, para extirpar o podre da bela fruta que você meticulosamente escolheu.