segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

AVE ABATIDA


Ave ferida,

caída,

abatida,

estendida no chão.


Seu peito sangra.


Pelo seu corpo,

escorre seu sangue.


Pela ferida aberta,

pela ferida exposta,

pelo tiro disparado,

por impiedosa mão.


Antes a ave voava

e a todos com seu plainar encantava.

Junto a seu bando,

o colorido de suas penas intensamente brilhava.


Agora seu corpo jaz.

E o caçador segue impune.

Segue a buscar abater outras aves,

tirando seu brilho,

tirando seu ninho,

tirando seu ser.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

CASTELOS DE AREIA


Passeando pela praia,

vejo, na beira da calçada,

belos e imponentes

castelos de areia.


Feitos para deleite de quem passa,

seus artistas os constroem,

sem se importarem

que sua obra

logo logo vá se acabar.


A posteridade não importa.

A posteridade não comporta.

E a imponência é mera aparência.


Mas a beleza dos castelos

mexe com o imaginário de quem tem olhos para ver além.


Mostra que o fulgás momento,

é naquele instante eternizado.

Eternizado antes que o mar avance

e transforme a bela obra

em nada mais que simples pó,

simples areia, num só relance.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

DEFINIÇÃO DE AMIGO


Amigo não é colega, conhecido, vizinho simpático.

Amigo pode ou não ser parceiro,

mas vai depender do quê.


Amigo não é o mesmo que amante, ficante, namorante, maridante.

Amigo é amigo e só.


O resto pode ou não chegar a ser também amigo,

mas vai ser uma espontânea consequência,

pois a origem da amizade;

entre os colegas, os ficantes, os amantes, namorantes e maridantes;

está longe de ser motivada por um sentimento despretensioso e simplesmente fraterno.


Amigo com maiúscula é amigo antes de tudo isso.


Mas a língua é viva e se transforma.

Ela não para no tempo e às vezes se deturpa.

No caso, a palavra amigo hoje assume um caráter plural,

polissêmico.

Seu significado original vai aos poucos se diluindo

e se perdendo.


Muitas vezes apenas rotula e camufla diversos outros tipos de relações.

Relações que não se firmam, não se fixam, não se definem.

E, na falta de um termo melhor,

(ou de coragem mesmo dos falantes)

banaliza-se a palavra amigo,

que deveria ser destinada apenas àqueles que realmente se importam comigo, contigo e consigo.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O CONHECIMENTO

O momento,
a primeira impressão.
Dizem que é a que fica,
Ledo engano então.

O conhecimento é um processo.
E a vã tentativa
de deter a sensação da primeira impressão,
é que é o que gera,
muitas vezes,
um ingênuo e infantil lamento.

A beleza do momento encanta.
A rudeza também espanta.
Com o tempo,
Beleza e rudeza podem ou não se mesclarem,
Podem ou não se adaptarem,
Podem ou não se sobreporem.

Só com o tempo.

São como as nuvens no céu.
Elas estão lá.
Cada uma em seu lugar.
Mas o vento as empurra,
E uma cede lugar à outra.

Outra vezes, uma se funde à outra.
Seus formatos originais nunca irão se manter.
Podem vir a se condensar
e então virem a chover.

Com a chuva,
As nuvens somem.
Na verdade se transformam em água em seu estado líquido.
Que, dependendo de sua intensidade, pode a Vida regar,
Ou pode a Vida impedir de viver.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

NATUREZA MORTA


A fonte secou,
a água acabou,
o rio, seu curso desviou.

A grama murchou.
Das flores,
nenhuma semente brotou.

Nas pedras;
os peixes,
o ar puro sufocou.

Natureza morta.
Natureza bela.

Um dia viva.
Outro dia,
bela aquarela.

Da noite pro dia,
acaba e/ou recomeça
mais uma querela.